terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Pouco dinheiro e poucas idéias

Dias desses, numa conversa informal com o dirigente esportivo Flávio Estevam, ele me revelou total desanimo em relação à verba que receberá da Selam (Secretaria de Esportes, Lazer e Atividades Motoras) para a temporada 2009. Segundo ele, serão R$ 6 mil por mês para a equipe de vôlei masculino. Na matemática pura e exata, o aumento ante 2008 é de 50% já que esse ano, mensalmente, o time recebe R$ 4 mil por mês.
Colocando as queixas do dirigente de lado, 50% de aumento de verba mensal não deixa de ser excelente. Poucos salários nos país (exceto a de alguns dirigentes políticos) sobem tão expressivamente.
Mas colocando na ponta do lápis, Flávio Estevam está certo em suas queixas. Manter um time significa pagar técnico, preparador físico, serviços de fisioterapia, aluguel para os atletas etc. Os R$ 6 mil por mês, na ponta do lápis, de fato não serão o suficiente. Pelo menos é o que posso avaliar a grosso modo.
Mas ainda no bate-papo com o instruído dirigente, analisei o que já expressei nessa coluna: a deficiência comunicativa de quem está no esporte. Disse ao Flávio que falta às equipes um profissional de marketing esportivo. Ora, se um time não tem dinheiro nem para se manter na temporada, como contratar um profissional de marketing? Não é difícil. Temos instituições de ensino em Piracicaba e região prontas para colaborar. Outra saída, o próprio dirigente se aperfeiçoar, fazer cursos. Se o interesse é manter um time, esse objetivo não pode ser apenas por mera paixão. O esporte não tem mais espaço somente para a paixão.
Vamos aos exemplos. Na minha época, via o Corinthians, o Flamengo, o Palmeiras vestindo apenas a bela e tradicional camisa de clube. Sem nenhuma propaganda. Vendiam jogadores antes da Lei Pelé porque eram donos de seus passes. Mas certamente viviam em desespero ainda maior que nos dias atuais. Hoje, a camisa dos clubes é uma verdadeira placa de aluguel. São Paulo, Fluminense, Internacional, Grêmio e, enfim, todos os clubes do país cobram milímetro por milímetro o espaço em seus uniformes. O exemplo mais recente foi a contratação do ‘Fenômeno’ Ronaldo pelo Corinthians. Só no primeiro dia, a vendagem de camisas do clube superou as centenas.
E o trio de ferro da capital - Corinthians, Palmeiras, São Paulo não pára. Os três grandes clubes estão atrás de patrocínio. Corinthians, Palmeiras e São Paulo amargam o fim de parcerias com Medial, Fiat e LG, respectivamente, e ainda não anunciaram oficialmente nenhum substituto. Podem renovar os contratos ou simplesmente trocar de marcas. Há a possibilidade, mesmo que remota, de o trio de ferro estrear na temporada com a camisa limpa, à moda antiga, bonito e tradicional, mas pouco funcional nos tempos atuais. Os clubes têm na receita de patrocínio do uniforme (camisa, calção e meião) um valor fundamental para fechar as contas no fim do ano. É dinheiro sagrado. E todos estão se mexendo para iniciar o Paulistão, em 21 de janeiro, de camisa nova, mas sobretudo com um polpudo acordo assinado.
A situação é bem diferente em relação ao fim de 2007. Doze meses atrás, São Paulo e Palmeiras já tinham contrato vigente. O São Paulo recebeu R$ 16 milhões da LG e o Palmeiras, R$ 10 milhões da Fiat. O Corinthians, mesmo rebaixado para a Série B do Brasileiro, conseguiu o anunciado maior acordo de patrocínio do futebol brasileiro. A Medial Saúde pagou R$ 16,5 milhões ao clube em 2008. O Santos destoa. Ainda tem contrato com a Semp Toshiba perto dos R$ 8,5 milhões/ano.
Essas informações acima são da Agência Estado. Para concluir o raciocínio, clubes têm seu pessoal especialista em marketing esportivo. O trio de ferro está sem patrocínio, mas rapidinho cada um deles chegará com boas surpresas e, mais importante, dinheiro privado garantido para toda a temporada.
Flávio Estevam, o do vôlei masculino aqui em Piracicaba, ameaça deixar sua paixão de lado. "Esse ano coloquei dinheiro do bolso", disse. Uma pena. Não pelo vôlei - se esse time parar, os jogadores migrarão para outras equipes -, mas pela falta de iniciativa. Ora, o Poder Público já faz sua parte financiando o básico para as equipes. Não é papel público manter equipes de alto rendimento. O papel é garantir a atividade de base, o esporte como caminho social. Cabe às equipes levar boas idéias aos secretários, pedir que ele faça a ‘ponte’ com o empresariado, cobrar projetos de incentivo fiscal à Câmara de Vereadores. E mais do isso: se atualizar e virar um entendedor de marketing esportivo. Ora, dinheiro não cai do céu e um empresário quer ver sua marca atrelada a um time vencedor.



José Ricardo Ferreira - Baby

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