terça-feira, 11 de maio de 2010

Libertadores com sotaque caipira

Por Rodrigo Guidi

Sobre o que aconteceu dentro de campo no Palma Travassos, em Ribeirão Preto no sábado vou dizer apenas que foi guerreira a atuação de todo o elenco do XV, com destaque especial para Fernando Hilário e João Paulo, soberanos em todas as jogadas que participaram.

O que quero aqui nessas mal traçadas linhas é tentar passar ao leitor e aos torcedores do Alvinegro o clima que nós da imprensa vivenciamos na Califórnia do Café. Ressalto que quanto à diretoria comercialina, não temos do que reclamar, pois fomos muito bem recebidos.

O clima de guerra foi instaurado já na noite de sexta, quando alguns torcedores do Leão do Norte descobriram que o elenco quinzista estava em Batatais e foram até lá para um interminável foguetório e a pressão rotineira que antecede as decisões. A atitude obrigou o time a mudar de hotel, para que os atletas pudessem dormir.

Já na chegada ao estádio, quase uma hora e meia antes do jogo, pudemos perceber o que nos esperava. Alguns torcedores mais exaltados dirigiam xingamentos à equipe do JP, outros chegaram a chutar o carro e a gritar que iríamos “morrer”.

O paradoxo foi um senhor gente boa nos dar um alerta e recomendar que não deixássemos o carro onde paramos, no local reservado à imprensa. Graças a isso não tivemos o carro depredado.

Dentro do estádio a festa estava bonita. Muitos torcedores com seus batecos (espécie de bastões infláveis) gritavam para apoiar o time. O barulho era reforçado por baterias de fogos soltadas de tempos em tempos. Até aí tudo bem. É esse o papel do torcedor.

A coisa começou a dar sinais de preocupação pouco antes do início da partida, quando os diretores do XV foram impedidos por alguns torcedores de ocupar seus lugares em um camarote. A PM não garantiu a segurança da diretoria e recomendou que eles ficassem em outro lugar.

Às ofensas seguiram copos de água arremessados contra os dirigentes, que não tiveram outra alternativa a não ser assistir a partida de outro lugar.

Estava desenhado o cenário do jogo e o que poderia acontecer caso o Comercial não conseguisse o acesso. O clima era um misto de Série A3, com sua falta de estrutura, e Libertadores da América, com a hostilidade da torcida ao time visitante e a quem quer que fosse de Piracicaba.

Uma vez no estádio, chegamos a pensar se talvez não teria sido melhor termos viajado com um carro sem identificação, mas só o nome “Piracicaba” escrito na placa poderia custar ainda mais caro.

Depois do gol anulado do Bafo, ficamos apreensivos e temerosos de possíveis represálias. A revolta, que gerou agressões ao trio de arbitragem e até uma tentativa de agressão ao coronel Marinho, por pouco não afetou o elenco quinzista. Acalmados os ânimos dos torcedores, conseguimos finalmente deixar o estádio, quando já faltavam cinco minutos para as 23h (o jogo acabou pouco antes das 21h).

O clima de tensão limitou um pouco nosso trabalho, mas não impediu que escrevêssemos e ilustrássemos nas páginas do JP deste domingo pelo menos um pouco da épica história do acesso.

De qualquer forma, o saldo que fica é uma baita experiência (profissional e de vida) e a alegria em poder compartilhar com o time esse momento único, especial e merecido. Fica também a certeza de que a bagunça e as cenas de violência que presenciamos se restringiram a meia dúzia de baderneiros que não refletem o perfil dos verdadeiros torcedores do Comercial e dos cidadãos ribeirãopretanos. Que venha a Série A2 de 2011. Vamô, vamô XV!!

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