segunda-feira, 31 de maio de 2010

Contos da Copa 1

O QUE VOCÊ estava fazendo em junho de 1982? Eu, aos oito anos, estava como um louco à frente da TV torcendo pela Seleção Brasileira na Copa da Espanha. Os comandados de Telê Santana eram considerados os melhores de todos os tempos. Zico, Sócrates, Falcão num mesmo time.... era demais..... A única coisa ruim era o lateral Júnior tentando cantar a música "voa canarinho voa..."

ERA UMA época turbulenta, mas, também, muito feliz. O rock nacional explodia nas rádios, mas também o som norte-americano invadia as FMs, que se tornavam cada vez mais populares. Músicas como Physical, de Olívia Newton-John, e Thriller, de Michael Jackson, eram alguns dos "hits" daquele ano.

NO MUNDO, a grande tensão era a Guerra das Malvinhas, deflagrada em abril de 1982, um pouco antes da Copa do Mundo começar. Argentina e Inglaterra brigaram para ser o "pai da criança". No cenário político nacional, o antigo PMDB dominava e via um "nanico emergente": o PT do então metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.

O FLAMENGO tinha o melhor time do Brasil, o meu Palmeiras encarava um início de um jejum de títulos e o São Paulo iniciava sua fama de papa-títulos, mas já esbarrava no Corinthians, que vivia sua democracia.

ANTES DA ESTRÉIA contra a Rússia, da "muralha" chamada Dasaiev -- o melhor goleiro que eu vi jogar (que me desculpe o Marcão) -- eu estava muito ansioso. Mas no fim deu tudo certo, mesmo com o placar sofrido: 2 a 1, de virada. A festa estava armada no meu bairro, na zona leste de São Paulo. Lembro-me que, ao final daquela estréia, fomos para a rua festejar, jogando uma bolinha.

OS OUTROS dois duelos da primeira fase foram muito fáceis: 4 a 1 na Escócia, com direito a golaço de Zico, de bicicleta; e 4 a 0 na Nova Zelândia. Neste mesmo período, a Itália se classificava de forma dramática com três empates -- 0 a 0 com a Polônia, 1 a 1 com o Peru -- com o gol de empate aos 45min do segundo tempo -- e novo 0 a 0 com Camarões.... Só se classificou no saldo de (um) gol.

NA SEGUNDA fase, o Brasil formou um triangular com Argentina e Itália. A Itália era a "zebra", o Brasil era o favorito, e os "los hermanos", de Maradona, eram os "franco-atiradores". Não tínhamos dúvidas do tricampeonato. O time de telê era imbatível. Contra a Argentina, uma aula de futebol: 3 a 1 e ainda Maradona foi expulso ao dar uma entrada desleal em Batista.

ATÉ QUE chegou o fatídico dia: 5 de julho de 1982. A torcida estava animada e muitos pegavam vôos de última hora para Barcelona, na Espanha. O Brasil não tinha como perder... Como ser eliminado para um time que só havia, até então, vencido um jogo? -- o "Azzurra" ganhara por 2 a 1 na Argentina na segunda fase.

EU VI AO JOGO na casa de um amigo. A acanhada residência dele estava "abarrotada" com umas 20 pessoas vendo a decisão em uma TV 14 polegadas. O dono da casa havia prometido uma churrascada e muita cerveja ao final da partida. Estava de olho na carne, pois não bebia (e ainda não bebo) cerveja. Porém, a festa verde-amarela se transformou em um pesadelo chamado Paolo Rossi: 3 a 2 para os "Azuis".

O MAIS INTERESSANTE é que o tal Paolo Rossi, um jogador meia-boca da Juventus de Turim, foi condenado em 1980 por envolvimento com a máfia que "fabricava de resultados" no futebol. Pegou três anos de prisão, mas saiu por bom comportamento em 1982 e foi à Copa..... Até o jogo contra o Brasil, ele não havia feito nenhum gol no país da Península.... Seu faro de gol começou "aflorar" justamente contra o Brasil.... Para o nosso azar.

CHOREI como nunca.... O Brasil perdeu a Copa.... Para mim, aos oito anos de idade, o futebol na seleção canarinho era tudo.... A nossa maior paixão era o futebol. Depois de meia-hora triste, fui com os meus amigos jogar bola na rua... a tristeza passou, mas tivemos de ver aquela seleção da Itália levantar o caneco quer era para ser nosso......

Erivan Monteiro

editor de esportes do JP

Nenhum comentário: