quarta-feira, 26 de maio de 2010

Os desafios da bola oval

Por Lucas Fontes*

Uma bola oval ao invés da redonda. Oito jogadores de cada lado no lugar de onze. Bola na mão e não no pé. Isso é Futebol Americano, representado na cidade de Piracicaba pela equipe dos Cane Cutters, que esse ano está na disputa do primeiro Caipira Bowl, torneio que reúne seis equipes do interior paulista.

Mas por que algumas pessoas trocariam o velho, conhecido e tradicional “soccer” pelo “football”? Muitos poderiam dizer que essas equipes já nasceram fadadas ao fracasso. Mas não o Cane Cutters, que vem mostrando a todos que o preconceito que existe nesse esporte já deveria ter acabado, e com muita garra, vontade e dedicação vem superando os próprios limites e ganhando confiança e qualidade para a disputa do Caipira Bowl.

Após o recrutamento realizado no dia 23 de janeiro, a comissão técnica, dirigida pelo experiente e competente Marco Bucci, começou a realizar o trabalho de analisar individualmente cada jogador e escolher suas posições. Parecia que essa seria a parte mais difícil. Ledo engano. Muitos “recrutados” não entendiam sobre o apaixonante jogo com a bola oval, e ficavam perdidos nos treinamentos, cabendo aos coordenadores ensinar, ensinar e ensinar, treino após treino, o que fez surgir o primeiro ponto crucial para a formação do Cutters: o comprometimento dos jogadores. Poucos deixariam suas casas em pleno domingo após o almoço. Poucos se interessariam por aprender sobre um esporte que vai na contramão da cultura brasileira. Poucos dedicariam horas de seus dias para um time de futebol americano no Brasil. Mas como essas crianças, jovens e adultos já eram diferentes dos demais, esses pontos foram só mais um passo em busca da formação de um time.

Pouco a pouco os novos jogadores foram se integrando com os mais velhos, e trocando experiências, histórias e conhecimento. Com o início da família Cutters, foram definidas as posições de cada jogador, avaliados de acordo com seu biotipo e qualidades técnicas. Esse foi o segundo passo fundamental para o Cutters, dando início aos treinos específicos, e, o que a “galera” mais gosta, os famosos rachões. Os primeiros coletivos foram sofríveis. Jogadas que não eram completadas, fumbles (escapes da bola), erros de posicionamento e de rotas eram freqüentes. Mas com muito suor, vontade e dedicação, o cenário começou a mudar. Bucci e seus auxiliares, Felipe (midle linebacker) e Castellucci (center), extraíam dos jogadores todo o potencial durante os treinamentos. Repetições e mais repetições de exercícios passaram a ser a cena mais vista durante os domingos. À base de muita conversa e troca de e-mails, a comissão técnica conseguiu o que parecia improvável: montar um time e criar um padrão de jogadas.

Playbooks (manual com jogadas) ofensivo e defensivo foram criados e as jogadas começaram a ser trabalhadas. Em vez das cenas dignas de serem esquecidas, entraram em campo os passes completos, as grandes corridas, big plays e os touchdowns (o gol no futebol americano), assim como aumentaram as interceptações, os sacks e os tackles (movimentos de defesa). As dores, o cansaço, as pancadas e as pequenas lesões no corpo passaram a ser insignificantes perto da vontade e do ânimo do time, que só deixa de treinar quando o dia vira noite. Em pouco mais de dois meses o Cane Cutters conseguiu demonstrar uma melhora bastante significativa, e até incomum devido às circunstâncias. E essa melhora só tende a aumentar, com o passar dos treinos, jogos e a obtenção de ritmo de jogo.

Se a equipe vai vencer o Caipira Bowl ainda é cedo para dizer. Até agora foram duas rodadas e duas vitórias: 29 a 3 contra o CAASO Warthogs, de São Carlos, e 18 a 0 contra o Valinhos Bears, no último domingo. Mas uma coisa todos podem fazer: bater no peito e dizer “eu faço parte da família Cane Cutters!”

*Lucas Fontes
é repórter de esportes do Jornal de Piracicaba e linebacker dos Cane Cutters, e trará a vocês, leitores do blog, algumas histórias e bastidores sobre esse time, além de curiosidades e regras desse magnífico esporte que vem crescendo no nosso país.

Os Cane Cutters poidem ser acessados aqui.

4 comentários:

Unknown disse...

Ótima descrição do que é o futebol americano. Melhor bem descrito ainda é o sentimento de fazer parte da família Cutters.

Anônimo disse...

Obrigado pela excelente explanação Lucas.

Realmente é um esporte fantástico.. não é um esporte coletivo apenas, mas sim cooperativo e que está crecendo cada dia mais.

Felipe - MLB

Vitao disse...

Muito legal mesmo, espero que essas postagens continuem.

Bem legal para todos que tem curiosidade de saber sobre o time

Renan disse...

Aqui é trabalho meu amigo! Cutters até o fim! xD