sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Histórias do Futebol Amador

Cobrir futebol amador é uma experiência única, indicada para todos jornalistas em início de carreira e também aos mais veteranos. No trabalho de repórter em Jundiaí dei muitas gargalhadas, levei sustos e vi belas jogadas dos boleiros de fim de semana.
Os campos lá na Terra da Uva são bem tratados e a maioria tem arquibancadas. Me recordo que nos plantões de domingo tinha a missão de acompanhar a principal partida e, depois, com muita paciência, pegar os resultados das demais. Em média eram dez partidas aos domingos, fora as de sábado pelos juniores.
Entre as gargalhadas, fatos inusitados que rodeiam o futebol amador está uma declaração que um jogador me deu após mais uma rodada dominical. Como tenho o hábito de usar gravador em campo, lá fui em busca do artilheiro daquela manhã. Com gravador em punho pedi para descrever o gol que fez. Eufórico, o atleta vendo o gravador não titubeou: "Antes quero mandar um abraço para minha mãe. O gol foi em homenagem a você mamãe..." Fiquei quieto, resistindo para não cair na risada. Nem deu tempo de avisá-lo que não se tratava de rádio e menos ainda ao vivo.
A torcida dos jogos amadores também é bastante fanática. Me recordo que compareciam sempre em bom número, com bandeiras, fogos de artifício e gritos de guerra. Amendoim, bebidas alcoólicas e outros "estimulantes" sempre fazem parte desses aglomerados. Mas também via famílias inteiras torcendo para os jogadores. A gente sabe que dos terrões e do amador nascem ainda os futuros jogadores profissionais, embora as escolinhas de futebol estejam cada vez mais presentes nessa função.
Violência também é uma das características quando os organizadores não sabem dominar de antemão os ânimos exaltados. Me recordo da cena de um famoso radialista de Jundiaí, o "Cobrinha" que, por alguns momentos, deixou a paixão falar mais alto. Naquela ocasião, transmitindo um jogo do amador de Jundiaí (é isso mesmo, nos idos de 1995, 1996 as rádios transmitiam as partidas amadoras lá em Jundiaí) o Cobrinha teria feito algumas críticas utilizando o poder do microfone. Não deu outra. Ao término do jogo, alguns torcedores e jogadores recalcitrantes cercaram o radialista e lhe cobriram de pancadas. O pessoal do "deixa-disso" chegou antes que o pior acontecesse. Não conseguiram evitar, porém, que o radialista tivesse a testa rachada por uma paulada certeira.
Cobri por bons oito anos, nos plantões, o futebol amador. Vi gente famosa batendo bola, ex-ídolos de suas torcidas, como o Biro Biro que jogou no Corinthians. Ficaram as lembranças de um campeonato bem organizado e por isso apoiado pela imprensa. Pena que em Piracicaba a Liga Piracicabana de Futebol (fundada há 68 anos) está às moscas. Uma entidade que já foi tema de livro escrito em 2005 pelo historiador José Luiz Guidotti. Seu presidente José Roberto de Brito Leite não sabe ou não quer se comunicar. Diferente do radialista Dinival Tibério, da Associação Varzeana de Futebol, que duas vezes por semana passa as informações da rodada, munindo a imprensa de informações precisas. É assim: no esporte é preciso também saber se comunicar. Caso contrário, que patrocinador vai querer ver o seu nome veiculado em um campeonato deficitário?



José Ricardo Ferreira - Baby

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